domingo, 21 de novembro de 2010

A idade de ser feliz


Existe somente uma idade para a gente ser feliz.

Somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los, a despeito de todas as dificuldade e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores.

Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE, também conhecida como AGORA ou e tem a duração do instante que passa...

Mário Quintana

domingo, 14 de novembro de 2010

A arte de ouvir

De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento: “Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio. Veja esse poema de Fernando Pessoa, dirigido a um poeta: “Cessa o teu canto! Cessa, que, enquanto o ouvi, ouvia uma outra voz como que vindo nos interstícios do brando encanto com que o teu canto vinha até nós. Ouvi-te e ouvia-a no mesmo tempo e diferentes, juntas a cantar. E a melodia que não havia se agora a lembro, faz-me chorar...” A magia do poema não está nas palavras do poeta. Está nos interstícios silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia me faz chorar.
Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa para por não haver o que dizer tratamos logo de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos, nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou olhamos para o chão? Nada temos a falar. Esse silêncio, é como se fosse uma ofensa. Aí falamos sobre o tempo. Mas nós dois bem sabemos que se trata de uma farsa para encher o tempo até que o elevador pare.
Os orientais entendem melhor do que nós. Se não me engano o nome do filme é “Aconteceu em Tóquio”. Duas velhinhas se visitavam. Por horas ficavam juntas, sem dizer uma única palavra. Nada diziam porque no seu silêncio morava um mundo. Faziam silêncio não por não ter nada a dizer, mas porque o que tinham a dizer não cabia em palavras. A filosofia ocidental é obcecada pela questão do Ser. A filosofia oriental, pela questão do Vazio, do Nada. É no Vazio da jarra que se colocam flores.
O aprendizado do ouvir não se encontra em nossos currículos. A prática educativa tradicional se inicia com a palavra do professor. A menininha, Andréa, voltava do seu primeiro dia na creche. “Como é a professora?”, sua mãe lhe perguntou. Ao que ela respondeu: “Ela grita...” Não bastava que a professora falasse. Ela gritava. Não me lembro de que minha primeira professora, Da. Clotilde, tivesse jamais gritado. Mas me lembro dos gritos esganiçados que vinham da sala ao lado. Um único grito enche o espaço de medo. Na escola a violência começa com estupros verbais.
Milan Kundera conta a estória de Tamina, uma garçonete. “Todo mundo gosta de Tamina. Porque ela sabe ouvir o que lhe contam. Mas será que ela ouve mesmo? Não sei... O que conta é que ela não interrompe a fala. Vocês sabem o que acontece quando duas pessoas falam. Uma fala e outra lhe corta a palavra: ‘é exatamente como eu, eu...’ e começa a falar de si até que a primeira consiga por sua vez cortar: ‘é exatamente como eu, eu...’Essa frase ‘é exatamente como eu...’ parece ser uma maneira de continuar a reflexão do outro, mas é um engodo. É uma revolta brutal contra uma violência brutal: um esforço para libertar o nosso ouvido da escravidão e ocupar à força o ouvido do adversário. Pois toda a vida do homem entre os seus semelhantes nada mais é do que um combate para se apossar do ouvido do outro...”
Será que era isso que acontecia na escola tradicional? O professor se apossando do ouvido do aluno ( pois não é essa a sua missão?), penetrando-o com a sua fala fálica e estuprando-o com a força da autoridade e a ameaça de castigos, sem se dar conta de que no ouvido silencioso do aluno há uma melodia que se toca. Talvez seja essa a razão porque há tantos cursos de oratória, procurados por políticos e executivos, mas não haja cursos de escutarória. Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir.
Todo mundo quer ser escutado. (Como não há quem os escute, os adultos procuram um psicanalista, profissional pago do escutar.) Toda criança também quer ser escutada. Encontrei, na revista pedagógica italiana “Cem Mondialità” a sugestão de que, antes de se iniciarem as atividades de ensino e aprendizagem, os professores se dedicassem por semanas, talvez meses, a simplesmente ouvir as crianças. No silêncio das crianças há um programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. A inteligência é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade. É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.
Sugiro então aos professores que, ao lado da sua justa preocupação com o falar claro, tenham também uma justa preocupação com o escutar claro. Amamos não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar...
Rubem Alves

sábado, 13 de novembro de 2010

Cazuza - Só as mães são felizes - Lucinha Araujo, Regina Echeverria




Livro emocionante sobre a vida de Cazuza relatado por sua mãe. Lucinha Araújo nos apresenta o perfil de seu filho, um rapaz mimado, maluco, irresponsável e um grande poeta que viveu de forma muito intensa sua breve vida. Teve sempre tudo o que quis, por isso não aceitava ser contrariado em seus desejos, o que o tornava muitas vezes agressivo quando não tinha suas vontades satisfeitas. Foi muito amado, e esse amor em excesso fez com que seus pais muitas vezes fechassem os olhos aos seus erros e loucuras.
O ponto alto da história são as emoções vivenciadas por Lucinha em sua luta incansável para tentar amenizar o sofrimento de seu filho causado pelo terrível HIV, o livro nos mostra a determinação e garra dessa mulher. E quem é mãe é quase impossível não ter empatia com a personagem, de sofrer junto com ela todo o processo de tratamento da doença e os últimos momentos de vida do seu filho.

Cazuza

  • Eu conversava com Paulo César quando alguém me perguntou se eu queria me despedir de meu filho. Entrei no quarto, o abracei e lhe pedi perdão por tudo o que eu fiz de errado, por toda a incompreensão, pela impaciência, por amar demais, por ter demorado a entendê-lo. Em voz alta, como se assim ele pudesse me escutar melhor. Três anos depois, conversando com uma amiga, a escritora Glória Perez, ela me verbalizou a mesma sensação que senti naquele momento ao abraçar meu filho morto. Contou que, ao abraçar sua filha Daniella Perez, assassinada em 28 de dezembro de 1992, sentiu como se a estivesse levando de volta a seu útero. Eu abracei Cazuza como se quisesse que ele entrasse dentro de mim novamente.

  • A pior constatação de minha vida foi descobrir que meu filho viveria apesar de mim. Era tamanha a responsabilidade que sentia em relação a ele que de repente, quando ele se transformou numa pessoa pensante – e, de modo geral, com uma cabeça muito diferente da minha –, me percebi totalmente impotente. Os conflitos em casa começaram a se intensificar a partir dos 12 anos de Cazuza. Meu descontrole data do início da era da mentira.
  • Quando meu filho completou 20 anos, foi como se um raio de lucidez se apoderasse de mim. Como, se cansada de tanta luta em vão, me encontrasse finalmente, com as portas da compreensão abertas à minha frente. Até então eu havia tentado, de todas as maneiras possíveis e impossíveis, transformar Cazuza no modelo de ser humano que eu acreditava ser o mais certo, o mais adequado. Fiquei convencida de que não era necessário dominar ninguém para ser feliz. Minha tentativa de dominar meu marido havia revertido de tal maneira que seria correto dizer que era ele quem me dominava. Também tentei dominar meu filho e não consegui. Havia chegado o momento de relaxar, de aceitar o fluxo da vida tal qual ela me fulminava no rosto a cada manhã.

  • Não sei se pela consciência da solidão, ou pela dor de poeta que carregava em seu peito, a verdade é que meu filho nunca desejou servir de exemplo para ninguém. Tinha verdadeiro pavor em ser reconhecido como “guru” e, também, de aglutinar seguidores quando se discutia seu modo de vida. Em entrevistas declarou, várias vezes, que não aconselhava ninguém a segui-lo, nem mesmo um cachorro de rua.

  • Como descrever aquele sentimento que nos envolveu os três, pai, mãe e filho, na mais triste volta de Cazuza para nossa casa? Como se consola um filho que acaba de descobrir ser portador de uma doença fatal? Em que forças devemos nos agarrar em situações de extrema carga emocional como aquela, quando olhei nos olhos de Cazuza e desejei trocar minha vida pela dele?


  • O desabafo de Cazuza com o analista, no último contato entre eles, pode parecer dramático, mas nem mesmo nos dias do pior pesadelo deixei que o clima de piedade contaminasse os últimos momentos da vida de meu filho. Mantive a promessa de nunca chorar na sua frente e essa atitude se reverteu em sentimentos mastigados e não digeridos. Meu sorriso, mesmo assim, esteve sempre nos lábios em todas as últimas vezes em que nossos olhares se cruzaram.

  • Quanto a Cazuza, descubro a cada dia como suas atitudes ousadas e seus versos de belezas desconcertantes carregavam em si o sentido da eternidade. Meu filho acreditou que o destino imutável dos poetas fosse abrir-se ao mundo e rasgar-se todo, até que nenhuma partícula lhe sobrasse desconhecida por dentro. Viveu intensamente todas as chances de experimentar novas sensações que a vida lhe proporcionou. Sem medos e sem freios. Exibiu-se no palco e fora dele com a sensualidade das pessoas intuitivas, não reprimidas.

  • E, assim, penso que o amor das mães não faz mal a ninguém. Basta entender e aceitar esse vínculo carnal que se inicia quando a vida floresce dentro de nossas entranhas. É um longo e doloroso aprendizado, concordo. Para mim, a chance de tentar novamente passou. Quem sabe posso ajudar alguém a compreender?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Curta e sábia

Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.
Ele disse:
- Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.
Um é Mau – É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego.
O outro é Bom – É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.
O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô: - Qual lobo vence?
O velho índio respondeu:
- Aquele que você alimenta!
Autor: Desconhecido

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Recurso - John Grisham





O livro nos mostra os bastidores da corrupção do sistema judiciário norte americano. Apesar de o autor afirmar se tratar de uma ficção parece-nos muito real. A trama é muito bem articulada, levando o leitor a conhecer os meandros da política, suas estratégias, seus encantamentos e seduções, e descobrir o que os políticos e os grandes grupos poderosos são capazes para a conquista do poder. Durante o decorrer da leitura cria-se uma expectativa com relação ao desfecho da trama, o que autor consegue nos surpreender simplesmente com a dura realidade.