segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A cura de Schopenhauer - Irvin D. Yalom


Após uma consulta de rotina, o psicoterapeuta Julius descobre que está com câncer e só lhe resta um ano de vida. Passada a angustia de saber de sua inevitável sentença de morte, Julius busca fazer uma análise de seu trabalho e se questiona até que ponto ajudou as pessoas que acompanhou em suas terapias de grupo. Resolveu buscar notícias de pacientes em que não obteve sucesso com seu tratamento e em meio a fichas de antigos pacientes se depara, com um de seus maiores fracassos, Philip Slate, um viciado em sexo. Sai em busca de seu antigo paciente que se diz curado e agora é um terapeuta. Para Philip “a terapia não teve qualquer valor e que seu verdadeiro analista tinha sido Schopenhauer”, filósofo alemão do século XIX. Precisando da supervisão de um profissional para concluir seu curso de orientação, Philip propõe a Julius que ele o supervisione e em troca lhe orienta sobre Shopenhauer. Acordo feito, Philip passa a participar da terapia de grupo de Julius e reencontra uma antiga ex-conquista “que o odeia pela frieza com que a descartou”. A partir daí então o leitor passa a conhecer os demais pacientes desse grupo bem como seus conflitos e problemas. Paralelo a isto a vida e as idéias de Schopenhauer são narradas de forma leve, o que nos ajuda a compreender um pouco de suas idéias pessimistas em relação ao sentido da vida, os relacionamentos e os desejos, que só levam à dor e ao tédio.

A cura de Schopenhauer

  • E assim, por anos, séculos e milênios afora, construímos sem parar negações paliativas de finitude. Será que nós, será que algum de nós, jamais cessará de buscar um poder superior no qual possamos nos fundir e existir para sempre, parar de querer manuais de instruções dados por um Deus, de querer um desíginio maior, de buscar rituais e cerimônias?
  • Nietzche uma vez escreveu que a maior diferença entre o homem e a vaca era que a vaca sabia como existir, como viver sem angústias (isto é, sem medo) no bendito presente, sem o peso do passado e a preocupação com os horrores do futuro. Sabe por que sentimos tanta saudade da maravilhosa infância? Segundo Nietzsche, porque foi a única época despreocupada, ou seja, sem preocupação antes de termos lambranças tristes e graves do lixo do passado.

  • Kierkegaard dizia que algumas pessoas têm duplo desespero, isto é, estão desesperadas, mas nem sabem. Você deve estar nesse desespero duplo. Quero dizer o seguinte: grande parte do sofrimento de uma pessoa vem por sentir desejo, realizá-lo, ter um instante de saciedade que logo se transforma em tédio e, por sua vez, é interrompido pelo surgimento de outro desejo. Schopenhauer achava que era essa a condição humana universal: desejar, saciar-se, entediar-se e desejar outra vez.

  • As grandes dores fazem com que as menores mal sejam sentidas e, na falta das grandes, até o menor desgosto nos atormenta.
    Schopenhauer disse que as mulheres muito atraentes, assim como os homens muito inteligentes, estão destinados a viver isolados. E que os outros ficam cegos de inveja e de raiva da pessoa superior. Por isso, esses dois tipos nunca têm amigos íntimos do mesmo sexo.

  • A alegria e despreocupação da nossa juventude deve-se, em parte, ao fato de estarmos subindo a montanha da vida e não vermos a morte que nos aguarda do outro lado.
  • Se não conto meu segredo, ele é meu prisioneiro. Se o deixo escapar, sou prisioneiro dele. A árvore do silêncio dá os frutos da paz.
  • A vida pode ser comparada a um bordado que no começo da vida vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!


Clarice Lispector

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010